Última Hora: ALBINO FORQUILHA ACUSADO DE TRAIR VENÂNCIO MONDLANE: "SIM, SENTI-ME O HOMEM MAIS ODIADO DO PAÍS"
Última Hora: ALBINO FORQUILHA ACUSADO DE TRAIR VENÂNCIO MONDLANE: "SIM, SENTI-ME O HOMEM MAIS ODIADO DO PAÍS"
O líder do Podemos em Moçambique foi apontado como traidor do "presidente do povo". Insultam-no na rua e fazem-lhe transferências de um metical para não se vender. Mas vai fazer as pazes com Mondlane.
“Tenho ouvido tantos insultos, tantos insultos, tantos insultos… filho da puta, pobre, você é mais do que Judas Iscariotes, você foi comprado, vendeu a causa, traidor.” O político a quem os moçambicanos têm chamado traidor nas últimas semanas é Albino Forquilha, líder do Podemos, maior partido da oposição. Transformou-se, como o próprio admite, no homem mais odiado do país.
A acusação de traição foi lançada por Venâncio Mondlane, auto-proclamado “presidente do povo” e pelo seu braço-direito, Dinis Tivane. Venâncio, considerado o Messias do Povo, concorreu a Presidente com o apoio do Podemos, mas perdeu a paciência. Não gostou de ver Forquilha a admitir liderar a oposição quando os resultados finais ainda não tinham sido formalmente fechados, porque achou que enfraquecia a causa da luta contra a fraude eleitoral. Gostou ainda menos de ver Forquilha anunciar que ia tomar posse como deputado, na véspera de Natal, no ponto mais alto dos protestos, porque achou que assim estava a caucionar o regime da Frelimo.
Como quase tudo o que Venâncio diz aos seus apoiantes vira lei, ser apontado publicamente por ele como traidor equivale a uma entrada direta no Inferno ainda em vida.
É nessas brasas que tem vivido Albino Forquilha nas últimas semanas: insultaram-no nas redes sociais, ao telefone e cara-a-cara; atacaram-lhe a casa duas vezes com bombas; iniciaram uma campanha para lhe transferir um metical pela app moçambicana equivalente ao MBWay, para ele não precisar de se vender; e acusaram-no de se ter deixado corromper pela Frelimo e de ter recebido 219 milhões de meticais (3,3 milhões de euros) e um carro.
De tudo isso o líder do Podemos falou ao Observador. Depois de uma semana a tentar agendar a conversa, sem sucesso, através do seu assessor, um encontro acidental com os enviados especiais do Observador no hall de um hotel de Maputo acabou por permitir o agendamento da entrevista para o dia seguinte.
Albino Forquilha foi raptado pela Renamo aos 12 anos e sobreviveu. A Frelimo enviou-o para estudar Engenharia na ex-RDA. Muito mais tarde, rompeu com a Frelimo dizendo do que discordava no funcionamento do partido do regime (o único que mandou nestes 50 anos desde a independência) e ajudou em 2018 a fundar o Podemos, sigla que significa (espetacularmente): Partido Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique. Tem orientação de centro-esquerda, sem afinidades com o radicalismo do Podemos espanhol.
Além de reconstituir o pesadelo das últimas semanas, Albino Forquilha mostra os passos que está a dar para sair deste aperto político numa tentativa de se reconciliar com Venâncio Mondlane. Mas também já vai dizendo que o seu candidato presidencial para daqui a 5 anos dificilmente será Mondlane: vai tentar preparar-se para ser ele próprio, Albino Forquilha, o homem apontado como traidor do povo.
Insultos e ataques. “Atiraram bombas de garrafas com petróleo para deixar a minha casa a arder”
Onde é que estava quando soube que Dinis Tivane [braço-direito de Venâncio Mondlane] lhe tinha chamado traidor?
Eu fiquei muito chocado com isso. Nem sempre estou atento às redes sociais porque tenho muita coisa para fazer, mas, quando cheguei a casa, a minha esposa disse-me: “Olha, estão a chamar-te traidor.” Fui lá ver e vi um post do Dinis. Depois vi o comunicado do Venâncio a dizer que havia uma traição à causa. E a seguir apareceu toda uma explosão.
Como é que foi essa explosão, passo a passo?
Foi uma explosão terrível, com muita gente a telefonar-me para me chamar traidor. Vieram pessoas a minha casa para atirar bombas.
Que bombas? Acertaram em alguma coisa?
Bombas de garrafas com petróleo, que acendem quando atiram. Eram para deixar a casa a arder. Ardeu uma mesa que estava na varanda, com um pano. Depois dessa primeira tentativa, cerca de 200 jovens fizeram uma reunião e disseram-me: “Presidente, nós não estamos de acordo com a violência.” Porque também havia supermercados lá e suspeitavam que outros jovens viessem de longe para saquear e fazer vandalismo. E eu disse: “Tudo bem, aquilo que vocês puderem fazer façam.” Criaram condições para pôr um portão de longe. Não fui eu que paguei. A comunidade preparou um portão grande e colocou lá. Estão neste momento em minha casa seguranças, mas pagos pela comunidade. Na segunda vez em que vieram, atiraram bombas contra o meu portão. Cheguei a ter um apartamento na cidade oferecido por compatriotas.
E ficou na cidade?
Fiquei em muitos sítios, porque as pessoas viram que havia mesmo uma insegurança.
Chegou a haver uma campanha para os apoantes de Venâncio Mondlane lhe enviarem meticais. Quantas pessoas lhe mandaram meticais?
Eu penso que há muita gente que mandou meticais, porque até ontem tinha recebido 18 mil meticais. Cada um foi mandando um metical, outros mandaram dois, outros mandaram cinco meticais.
De cada vez que recebe um metical, recebe uma mensagem, não é? O que dizem essas mensagens?
Um dia acordei e vi uma transferência de um metical, nunca me tinha acontecido. Perguntei à minha esposa: “Mas o que é isto?” Ela também não soube dizer. A seguir, já vinha uma mensagem: “Estamos a mandar isso porque você é pobre, você foi comprado, você vendeu a causa. Então vive desse dinheiro aí.”
E com insultos?
Sim. Tantos insultos, tantos insultos, tantos insultos… Você é filho da puta, você é pobre, você é mais que Judas Iscariote. Tantas coisas. Não tinha como direcionar exatamente esta acusação, são tantas pessoas a fazer, mas sabia que tinha começado depois de o Dinis e o próprio Venâncio me terem chamado traidor. As pessoas diziam coisas do género: “O Forquilha recebeu muito dinheiro do Estado, porque ele é pobre, então estamos a dar esse metical para que ele devolva o dinheiro que recebeu. Como é tão pobre, tem de viver desse dinheiro que estamos a dar.” E fui recebendo o tal metical.
O que vai fazer com os 18 mil meticais?
Visitei o hospital aqui, e na altura estavam 18 jovens, feridos nestes protestos. Vamos comprar cabazes para as famílias deles.
Se as pessoas diziam isso por mensagem, na rua também viveu situações complicadas?
Na cidade muitos vêm abraçar-me, mesmo nesta altura. Se eu estivesse nos bairros, se calhar teria tido situações muito piores, porque depende muito do esclarecimento que as pessoas têm. Passei por situações em que diziam: “Está ali o Judas, está ali o Judas” ou “é ele, é ele, é o Judas, é esse que traiu a causa, é esse que traiu o Venâncio.”
Como é que reagiu?
Não fiz nada. Fiquei calado. Continuei a caminhada. Pronto, eu percebo. É aquilo que dizem. Sempre ignorei. Há uma passagem na Bíblia que diz: “Pai, perdoa-lhe porque não sabe o que está a fazer.”
Acusação de traição. “Nunca me senti traidor. O povo vai perceber que eu tinha razão no que aceitei”
Alguma vez pensou se as pessoas que o insultavam teriam razão?
A decisão que tomei, com todos aqueles que me rodeiam no partido, estava muito certa. E eu, como timoneiro, tenho a obrigação de manter a posição. E isto encorajou-me ainda mais. Era simples eu deixar de reconhecer as decisões do partido, para reconhecer as decisões que queriam. Era sempre resolvido, porque é isso que eles queriam. Mas queria dizer que eu deixava de ser presidente do partido. Eu tenho um compromisso com certas pessoas, não tenho um compromisso com todos. Por isso é que somos um país multipartidário. Já fui muitas vezes à direção do partido com uma ideia clara e voltei com outra, porque a minha não passou. Se pensam que quem tem mais armas, quem ataca mais, tem de passar, não pode ser assim.
Então, não chegou a sentir-se traidor?
Nunca me senti traidor. Nunca me senti traidor. Porque, na verdade, não sou traidor. O povo vai perceber que eu tinha razão no que aceitei e no que estou a fazer hoje. Mas se há uma traição aqui, estamos a dizer que o Podemos, todo ele, é traidor. Porque o presidente não sai de casa e toma a sua posição. Eu estou a defender os interesses do meu partido.
Chegou a pensar desistir de ser presidente do partido?
Não. Porque eu sabia também que havia aqui um conjunto de esforços para, digamos, usurpar a soberania do partido e do presidente. E eu sabia que o caminho que estou a seguir é aquele que vai fazer com que menos mortes ocorram.
A sua mulher pediu-lhe para desistir?
Pediu, pediu. A minha esposa, os meus primos, os meus irmãos, todos. Até às 23 horas da véspera do dia em que fomos tomar posse, era chamadas a toda a hora, a pedir para eu não tomar posse. Eu disse que não, que ia continuar.
Sentiu-se o homem mais odiado de Moçambique?
Senti, sim. Senti que era o homem mais odiado de Moçambique. Dá um apito, toda a gente grita, mas sem uma reflexão muito profunda, autónoma. Não interessava o Lutero Simango, não interessava o Chapo [atual presidente], o Nyusi (ex-presidente), porque já os conhecem. Mas o Forquilha, que se calhar esperavam que fosse o anjo deles e, de repente, faz o que faz, este é que era o inimigo.
Como é que vai tentar inverter a situação?
O tempo vai virar. Penso que, gradualmente, até hoje, as pessoas mais sensatas, as pessoas que têm informação, aquelas que analisam, dão-nos muito apoio. E dizem mesmo: “Vocês estão a salvar o Podemos de ser extremista. Vocês estão a salvar o Podemos de ser um partido radical”. E não queremos associar o Podemos com o terrorismo incapacitado.
Acusação de corrupção. “Por que é que a Frelimo iria despender 219 milhões para comprar o Forquilha?”
Neste contexto, esta semana, apareceu a denúncia do CDD, Centro para a Democracia e Direitos Humanos, que o acusa de ter recebido 219 milhões de meticais (3,3 milhões de euros) e um carro da Frelimo para parar de contestar os resultados e aceitar tomar posse. Como é que reagiu?
Espero que provem isso. O meu partido já meteu uma queixa. Se eu recebi algum dinheiro de alguém, têm de provar de onde foi e onde está. Se não provar, então se calhar Adriano Nuvunga [presidente do CDD] terá de me dar os 219 milhões.
É essa a indemnização que vai pedir?
Não, não vou pedir isso e eu sei que ele nem vai ter isso. Ele só falou por falar. Mas vai ter de me pagar uns 5 milhões de meticais [cerca de 76 mil euros].
Neste contexto, terá havido muita gente a acreditar.
Sim, acreditou, sim. Muita gente enviou-me mensagens. Mas eu aguento muito esse tipo de cargas. Se calhar, se eu fosse uma pessoa fraca, nem estaria nas condições em que estou hoje.
Pertenceu à Frelimo. Acha que a Frelimo seria capaz de o tentar comprar desta forma?
Se analisássemos as razões que a levariam a fazê-lo, talvez. Mas eu não vejo essas razões neste momento. Neste contexto, eu acho que não. A Frelimo colocou-se como vencedora destas eleições. Já tem tudo. Pode dirigir, pode fazer andar o Parlamento sozinha. Porque é que, nesta altura, ela iria colocar o Forquilha como o mais importante e despender 219 milhões para comprar o Forquilha? Para ir tomar posse? Que diferença faria isso?
Talvez para baixar um bocadinho esta tensão política e, de alguma maneira, permitir que as instituições funcionem. Seria um grande embaraço se ninguém tomasse posse.
Quantos embaraços a Frelimo já passou ao longo desse tempo? Quantos? A Frelimo já matou muita gente aqui.
A Frelimo fez alguma abordagem parecida com isto?
Ninguém me contactou. Há muitos que me mandam mensagens de força. A abordagem que tive da Frelimo é no âmbito do diálogo. Nada para mim, nada, nenhuma coisa.
E esta denúncia de lhe terem oferecido um carro?
Não há nada. Olhe, quando começaram as eleições, eu fui dar uma volta ao país. Uma equipa minha saiu daqui [de Maputo] de carro até Pemba. E eu fui de avião e receberam-me a sair de Pemba até Maputo, a passar por quase, digamos, cinco a oito distritos de cada província em campanha. O carro não era meu. Compatriotas que sabem que precisam muito do trabalho que estou a fazer ofereceram o carro. Voltei a Maputo, recebi um Mercedes branco que usei em trabalho. Está lá com os donos. É empréstimo, só empréstimo. Depois passei a andar com um Mercedes preto, também de um compatriota que me entregou. Estou agora com um BMW. O Mercedes está na oficina. Há pessoas que têm garagens que me oferecem para o trabalho que estou a fazer, porque sabem das minhas condições. Sem nenhum custo.
E não cobram esses favores?
Não, não tem nenhum custo.
Mas não cobram esses favores de alguma maneira? Não são pessoas ligadas à Frelimo?
Não. São do Podemos. Mas não da Frelimo. Não é ético dizer os nomes. Mas esses são membros do Podemos. Aqueles que apoiaram o Podemos. Ninguém da Frelimo me ofereceu um carro. Ninguém. Nem sequer dinheiro.
Isto tornou ainda mais difícil a sua situação. Foi o ponto mais baixo da perceção pública sobre si?
Sim, considero isso o ponto mais baixo da perceção pública. Da forma como fui olhado. Se calhar, a maioria dos que apoiam isso — se formos, de facto, a reparar — são pessoas sem muito esclarecimento.
A reconciliação. “Disse ao Venâncio que não estava preparado para insistir nesta rivalidade”
Depois destas acusações de traição, sei que esta semana voltou a reunir-se com Venâncio Mondlane. Como é que se deu esta reaproximação entre os dois?
Penso que foi uma boa reaproximação, e necessária. Há uns quatro dias [terça-feira], encontrei-me com ele. Fui ao hotel onde está, com os representantes de mais três partidos políticos: a Renamo, o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) e a Nova Democracia. Era para podermos atualizar as dinâmicas políticas do país, e sobretudo no contexto do diálogo nacional. Antes da vinda dele [regressou a Moçambique no dia 7 de Janeiro], nós já tínhamos proposto ir ter com ele onde se encontrava.
Mas não chegaram a ir.
Não chegámos a ir porque ele impediu. Achou que não era conveniente. Mas criámos com os outros partidos uma Frente Ampla da Oposição, que se chama FAO. Tenho estado a reunir com esta frente, semanalmente.
Como é que combinaram a ida dos quatro lá? Foi ele que chamou?
Não, não, não. Fomos nós. Colocámos o presidente da Nova Democracia como elo de ligação com ele, para fazer o contacto.
Como é que foi o ambiente nessa reunião?
A reação foi muito boa. Ele concordou muito com o que estamos a fazer no âmbito do diálogo, porque entendemos que, efetivamente, continuando com os protestos que estamos a fazer, estamos a perder muitas vidas, mas também atendendo a que houve uma abertura para uma negociação, para um diálogo, nós tínhamos de entrar nesse diálogo, e ver, de facto, o que é que produzimos. Este país teve uma guerra jamais vista. Muita gente morreu, não é? Aos 14 anos de guerra, Samora Machel lembrou-se que podia conversar e negociar. Foram para Roma. Quando chegou à mesa de negociação encontrou o mesmo bandido com quem não conversou em 14 anos. Mas já tínhamos 1 milhão e 100 mil mortos no nosso país. Tínhamos tudo destruído. Se estivesse lá alguém inteligente, ia perguntar: você esperou que toda a gente morresse para vir hoje conversar com o mesmo bandido? Que inteligência está aí? Eu aprendi disso. Enquanto o Venâncio e o seu grupo, que está a ser muito extremista, pensa que pode conseguir isto pela força contra uma força tão desigual, eu discordo. Foi aí que começou, de facto, a nossa divergência sobre a estratégia.
A primeira vez em que voltaram a estar juntos os dois foi, então, com outras pessoas. Como é que quebraram o gelo que estava entre vocês?
Depois de saírem as outras pessoas, ele pediu para eu ficar. Ficámos os dois a conversar. Ele disse que, de facto, houve muitas coisas que andaram mal neste acordo todo [refere-se ao acordo entre o Podemos e Venâncio Mondlane, que serviu de base à candidatura]. Houve mesmo algumas ofensas ao acordo, porque algumas pessoas da parte dele apareceram a acusar o presidente de ser traidor. Ele também colocou assuntos no ar que antes eram confidenciais, não é? E isso levantou este mal-estar. Portanto, ele estava a entender que se eu aceitasse uma concertação sobre esses assuntos, que o fizéssemos, porque não fazia sentido que continuássemos a tratar-nos como nos estamos a tratar, muito menos sempre a divulgar o acordo e estas contradições todas. Eu disse que mantivemos o acordo confidencial: “Vocês é que apareceram a dizer que o presidente do Podemos era um traidor, traiu o acordo. Se você diz que o presidente do Podemos traiu o acordo, a massa jornalística e todos os outros estarão interessados em ver que cláusula do acordo, de facto, foi traída. E isso chamou o interesse.” Por isso, entreguei o acordo ao secretário-geral, à comunicação e imagem do partido, aos juristas do partido, porque queriam perceber onde o acordo foi traído. E aí vazou o acordo. Alguém me enviou de fora e era o acordo.
Quanto tempo durou essa conversa só entre os dois na terça-feira?
Mais ou menos uns 20, 30 minutos. E o que combinámos é que pudéssemos ter mais uma conversa para se concertar. Porque eu disse naquele dia que não estava preparado para insistir nesta rivalidade. Se, de facto, houver caminhos para concertar, estou disponível. Mas isso passava, se calhar, por dizerem ao mundo inteiro ou ao país que aquilo que disseram não era correto. Porque já sofri muitas ameaças e a minha família sofre com isto.
E Venâncio Mondlane: impôs alguma condição?
Não, não impôs nenhuma condição. O que disse foi que nos sentássemos por causa do acordo, porque a interpretação do acordo tem de ser feita de boa fé. Então, sentemo-nos e vamos ver o acordo. Podemos depois ter uma adenda e avançamos.
O segundo encontro para ver o acordo, já com equipas alargadas, foi ontem [quinta-feira, o dia em que Venâncio Mondlane não pôde receber Paulo Rangel invocando motivos de segurança]. Quanto tempo durou a reunião e como correu?
Foi das 17h30 até mais ou menos às 21h30. Já com equipas alargadas de cada um. Correu muito bem. Ele foi muito apelativo aos seus colegas para que fôssemos mesmo à razão e até apelou a que não fôssemos muito legalistas. E disse efetivamente que não estava interessado de forma alguma em ser presidente do Podemos, nos moldes que os outros defendiam. O Venâncio não é militante do partido.
Acha que vai ser?
Parece-me que ele quer ser e os seus [colaboradores] também porque já vinham falando comigo sobre a possibilidade de podermos reintegrar as outras pessoas e nós como partido também queremos: um partido que não aceita as pessoas que querem integrar-se não quer crescer. Nós queremos, mas dentro de todas as condições estatutárias.
Está disposto a abdicar de ser líder do Podemos para passar a ser liderado por Venâncio Mondlane?
Não tenho problema com isso, desde que seja dentro dos procedimentos normais do partido.
Num cenário desses, iria concorrer contra ele?
Sim, porque a minha candidatura à presidência do partido nunca foi minha, há sempre pessoas que propõem.
Um dos pontos de Venâncio Mondlane é a divisão dos fundos que o Podemos passa a receber do Estado, 50% para cada.
Aí estava um ponto de diferença. O acordo que eu tenho confere ao Venâncio Mondlane 5%. Eles diziam que têm um acordo que diz 50%.
É um zero que faz muita diferença.
Exato, um grande zero, e nós não reconhecemos essa parte. Nós não tínhamos competência para assinar um acordo a dar-lhe 50%, porque os fundos do Estado vêm para determinadas missões do Estado. Como é que o Podemos teria capacidade para tirar 50% para entregar a terceiros e como saberíamos justificar a gestão desses fundos? Nós, que estamos a pretender chegar ao poder, não podemos começar a usar mal os fundos.
Qual é o valor por ano que está em causa?
Se calhar, 4 ou 5 milhões de meticais por mês, não sei, não tenho muita certeza. E por termos ficado em segundo lugar, temos o fundo que vem da liderança da oposição, uns 10 milhões de meticais (153 mil euros) por mês. Este é da gestão do gabinete do líder da oposição, o gabinete que vou ocupar
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